coletânea: Ana Cláudia Silva

De que é feito o artista? Que tipo de inspirações, situações e referências um sujeito carrega em si a ponto de fazer disso uma consequência chamada arte? Eu sempre fiquei pensando sobre que leituras, que filmes, que cidades, que pessoas estavam por trás da personalidade artística de um artista. E quais ele foi guardando com o tempo.

Aquele filme que… aquele disco que… aquele lugar que. A sua coletânea.

Vem daí a ideia de criar uma seção, que começou lá no querido Azoofa e agora migra aqui pro blog da Navegar, em que possamos conhecer melhor o universo de referências e influências que circulam pela alma de que faz arte.

A convidada da vez é a fotógrafa portuguesa Ana Cláudia Silva, cujo fabuloso trabalho com as imagens volta e meia respinga aqui na Navegar – são obras suas alguns dos retratos de Felipe Antunes que utilizamos na divulgação do disco “Lâmina” e, recentemente, a foto que ilustra a nossa agenda do mês de maio.

[1] Um livro que tenha mudado sua forma de olhar o mundo

Ana Cláudia Silva: Os livros de José Saramago fazem com que qualquer um olhe para o mundo em várias perspectivas. Li “As Intermitências da Morte” numa altura em que ‘vi’ a morte pelo olhar dos outros. Este livro coloca diversas questões que nos faz imaginar como seria a sociedade actual se fossemos todos imortais e se alguns conceitos básicos existiriam. Um texto utópico, mas reflectivo.

[2] Uma imagem que tenha te deixado hipnotizado

Ana Cláudia Silva: A fotografia que Narelle Autio tirou a Trent Parke, fotógrafo australiano, quando este estava a analisar os seus negativos pendurados numa árvore. Para quem fotografa em película tem um significado especial – aquele olhar, quase primário, num local igualmente primário, sem ter as condições ideais para revelar película… Tudo especial naquela imagem.

[3] Um filme que você indicaria para quem está descrente do ser humano

Ana Cláudia Silva: “Cartas da Guerra” de Ivo Ferreira. Este filme (2016) tem como inspiração / adaptação um livro de António Lobo Antunes. Trata-se de uma troca de cartas de amor entre um casal separado pela Guerra Colonial Portuguesa (1961-1974). Neste mundo actual, cheio de tensão e guerras por todo o lado, este filme é uma lufada de ar fresco: manter viva a fé no amor, esteja ele onde for, e poder falar-se livremente de um assunto delicado daquele período dramático e triste da história de Portugal.

[4] Um disco novo que todo mundo deveria ouvir

Ana Cláudia Silva: O disco homónimo de Luís Severo. Está cheio de composições lindíssimas e que enchem o coração com tanta beleza. Fala dos medos, das realidades diárias, e claro está, de amor (e também de desamor – igualmente importante). Tudo num excelente bom português que mete inveja ao outro Luís (Camões).

[5] Uma canção que você gostaria de sair cantando na rua agora

Ana Cláudia Silva: Grande hit das rádios nacionais, continua actual e que canto várias vezes ao dia. “Amanhã estou melhor” de Capitão Fausto. Uma letra ousada e com refrão fácil, trata-se daquelas canções inspiradoras. Amanhã ‘tou melhor, mas ontem ‘tive na merda. 🙂

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Para conhecer mais sobre o trabalho da Ana, acesse seu site: Caminhos de Ser Feliz

+ Coletânea: Daniel Medina