coletânea: Daniel Medina

De que é feito o artista? Que tipo de inspirações, situações e referências um sujeito carrega em si a ponto de fazer disso uma consequência chamada arte? Eu sempre fiquei pensando sobre que leituras, que filmes, que cidades, que pessoas estavam por trás da personalidade artística de um músico. E quais ele foi guardando com o tempo.

Aquele filme que… aquele disco que… aquele lugar que. A sua coletânea.

Vem daí a ideia de criar uma seção – que começou lá no querido Azoofa e agora migra aqui pro blog da Navegar – em que possamos conhecer melhor o universo de referências e influências que circulam pela alma de um músico. O convidado da vez é o músico Daniel Medina, artista da casa que lança seu primeiro disco este ano.

[1] Um livro que tenha mudado sua forma de olhar o mundo

Daniel Medina: “Leaves of Grass” (Folhas de Relva) de Walt Whitman, primeira edição de 1855. Um marco divisor na poesia mundial. Inventividade estética e força poética. Um hino de libertação inaugural. Me pergunto como Walt reagiria ao ver seu sonho de “América” transformado nesse grande potência hipócrita e protecionista.

 

[2] Uma imagem que tenha te deixado hipnotizado

Daniel Medina: Chaplin em pele de Carlitos. Ternura e anarquia em um só anti-herói. O salto quântico e generoso de um ser humano transformar-se em outro e, assim, nos devolver a nós mesmos.

 

[3] Um filme que você indicaria para quem está descrente do ser humano

Daniel Medina: “Nós que aqui estamos por vós esperamos” de Marcelo Marzagão. Não sei exatamente se este filme nos leva a crer na espécie, mas com audácia traça um panorama do Sec. XX retratando toda nossa beleza e horror diante da existência. Além da montagem perspicaz de registros históricos a trilha sonora do belga Win Mertens nos faz decolar.

 

[4] Um disco novo que todo mundo deveria ouvir

Daniel Medina: “Eu Entendo a Noite como um Oceano que Banha de Sombras o Mundo de Sol”. É isso mesmo. Esse é um verso de Zé Ramalho e o nome do novo disco do compositor Vitor Colares. Álbum denso e de alto nível poético/musical, tira do mínimo o máximo e diz muito com pouco. A concisão e precisão de elementos, os silêncios e vazios tem seu lugar. De volta à pergunta, penso que “todo mundo” deveria ouvi-lo por fugir do lugar comum de instrumentações e por, apesar de ser um disco de canções, expõe a pesquisa de timbres e texturas: pura artesania.

 

[5] Uma canção que você gostaria de sair cantando na rua agora

Daniel Medina: “Cometa Mambembe” de Carlos Pitta e Edmundo Carôso. Galope certeiro de imagens poética que brotam em cascata com uma liberdade impressionante de versos radiantes. Quem me dera ter composto essa canção!